Sovist'
By Fernando Prata
God's Worst Contractors
[Primeira parte]
Um carro avança rapidamente numa estrada que rasga uma floresta de altos pinheiros. Dentro dele um homem e uma criança, pai e filho, vão em direção à casa.
O pai, animado, dá sugestões sobre o que podem fazer neste fim de semana.
A criança interrompe ao dizer que tem trabalhos de casa para fazer, ao qual o pai tenta o filho a não os fazer porque a mãe não vai lá estar para o impedir. A criança insiste em os querer fazer e isso deixa o pai aborrecido que acaba por gritar, mas ele cede e aceita ajudar.
A criança recusa a ajuda dele alegando que o pai está bêbado, o que deixa o homem ainda mais alterado e começa a insultar a mãe da criança. Ignorando o choro da criança, que intensifica os berros e os soluços a cada palavra que o pai diz.
O pai começa a repetidamente dizer que não está bêbado. E que tudo o que a mãe do filho diz são mentiras para virar o filho contra ele. Acusa-a de lhe destruir a vida quando ele ainda tinha todo um futuro jovem pela frente por querer manter o filho. E também que quando ele percebeu a felicidade de ter um filho ela desapareceu e mandou a policia lá a casa tirarem-lhe a criança, acusando-o de ser violento.
O homem volta a dizer que ela é uma mentirosa.
O filho grita e tapa os ouvidos para tentar abafar as palavras do pai, intensificando o choro. Então o pai olha para a criança, no banco de trás e grita ainda mais alto ordenando que pare com a choradeira, completamente alheio à estrada.
Então o carro sai da estrada e bate num pinheiro. Causando um estrondo que ecoa por toda a floresta. O homem é salvo pelo airbag, mas a criança é projetada pelos dois bancos da frente e colide com o tablier na frente do carro.
Uma dupla de pessoas é atraída pelo estrondo e também por estranharem o barulho de uma buzina que não cessa. Ao perceberem o carro, onde está o pai e filho, chamam imediatamente os socorros, que não demoram a chegar.
Um bombeiro salta do camião com pressa. Avalia a situação e aproxima-se da área do condutor onde vê o homem.
O bombeiro chama pelo enfermeiro e tenta perceber o estado do homem. O homem abre os olhos atordoado vista a situação e apenas consegue murmurar, perguntando onde é que está o seu filho.
O homem, então, pisca mais duas vezes para focar e finalmente percebe o bombeiro e toda a comoção ao seu redor.
O bombeiro explica a situação em que o homem se encontra e pergunta-lhe o nome, mas o homem mostra preocupação com o seu filho e diz que ele está no banco de trás.
O bombeiro verifica os bancos de trás do carro desfigurado, mas não percebe a presença de ninguém. Então volta para o homem e diz que não viu ninguém.
Então nesse momento antes de sequer conseguir acabar a frase percebe que ao lado do homem, espetado no tablier, está lá o corpo da criança completamente destruído.
O bombeiro aponta para o corpo. Ao perceber o corpo torcido e esmagado do seu filho começa a gritar desesperadamente.
[Segunda parte]
Num fundo escuro ouve-se uma voz de respeito dizer:
“O réu Jerónimo Jeremias vai ser sentenciado por condução perigosa, posse de drogas, assassinato involuntário e condução sobre o efeito de psicoativos, e álcool.”
E então o soar do bater de um malhete.
Depois disso J.J. é levado diretamente para a penitenciária, acompanhado por um guarda eles caminham até à sua cela respetiva.
Ao chegarem à cela o guarda tira as algemas a J.J., dá-lhe as informações básicas sobre os horários dos presidiários e fecha a cela.
J.J. agora sozinho explora a cela com o olhar. Uma cama beliche, uma sanita, um lavatório com um pequeno espelho de plástico em cima pregado na parede e um banco de 3 patas encostado a um canto.
Ele grunhe e coloca a mão na testa cabeça. Sente-se tonto, então arrasta-se até à cama onde se deita e adormece instantaneamente, pelo cansaço acumulado.
[Terceira parte]
Na total escuridão o som do bater de um malhete ecoa três vezes e uma voz distorcida brada:
“Que comece o julgamento do réu Jerónimo Jeremias.” O som do bater do malhete volta a ecoar três vezes.
[Gameplay]
[Clareira da peste]
J.J. acorda sobressaltado. Ao se levantar-se percebe que já não está na cela, mas agora numa clareira de uma floresta de altos pinheiros distorcidos e meio assustadores. O chão é preto e enlameado e o céu noturno teve as suas estrelas varridas.
Confuso, J.J. estranha o seu arredor até que vinda das arvores ele ouve uma voz que lhe dá as boas-vindas. J.J. olha para o sítio de onde vem a voz, então pelo meio da vegetação salta uma figura baixa, uma criança, que corre até ele.
Um rapaz com o cabelo ondulado, um pouco acima dos ombros, castanho- escuro com os olhos da mesma cor que ativamente evitam olhar J.J. diretamente.
A criança pergunta a J.J. se ele sabe porque é que ele ali está, mas ele não sabe responder. J.J. diz não saber quem é a criança e ainda que não sabe o seu próprio nome.
Ao ouvir isto a criança vira as costas a J.J. e começa a andar em direção á floresta de onde veio enquanto diz que quem ele é não importa nada, mas que J.J. por outro lado é uma existência importante por ali. E ainda decide citar o nome de J.J., mas o som sai indecifrável.
O homem começa a acompanhar a passada da criança e pergunta-lhe para onde é que estão a ir. A criança esclarece o homem dizendo que lhe vai mostrar porque é que ele é importante e entram os dois na vegetação.
As árvores e as plantas movem-se abrindo caminho para os dois e formando um túnel, mas age de uma maneira estranhamente agressiva a J.J., criando espinhos em direção a ele.
A criança sussurra de maneira que J.J. não ouça dizendo que nem a própria consciência gosta dele.
Começa a ver-se uma luz ao fundo do túnel de árvores, uma nova clareira.
Os dois param ao chegarem nela, no meio há uma grande mancha branca que parece viva.
A criança estende os braços em sinal de contemplação, diz terem chegado e de seguida pergunta a J.J. se ele está pronto. Pergunta essa que J.J. responde com uma expressão de confusão. O miúdo esclarece que abriram a caça aos coelhos e aponta para a mancha branca. Ele diz que desde que eles chegaram que tudo tem estado desequilibrado e que J.J. é o responsável de os eliminar.
Com isto a mancha branca começa a mover-se e contorcer-se cada vez mais.
Começa também a emitir vários chiares que preenchem a atmosfera e causam arrepios violentos na espinha do homem.
A criança estica um velho cano de esgoto ao homem sugerindo que o use.
J.J. recebe-o ainda sem perceber a situação. Ele não percebe ainda o que tem de fazer. E por ver a confusão do homem a criança esboça uma expressão pesada, insulta J.J. e pressiona-o dizendo, mais uma vez, que é responsabilidade dele acabar com os coelhos.
J.J. começa a deixar-se dominar por emoções negativas e diz nunca ter concordado com isso. Ao qual a criança responde com uma expressão perversa, alimentada pelo desespero de J.J., avisando-o que os coelhos sentem o stress e é melhor ele acalmar-se.
A mancha branca então solta um grito ensurdecedor e o homem cai ao chão por perde as forças para a tremedeira sendo capaz apenas de se agarrar ao cano. A mancha divide-se em milhares de coelhos brancos, dentes aguçados e uma fome enorme no olhar vermelho brilhante.
Os coelhos investem na direção do homem. Ele começa a choramingar dominado pelo medo e diz que não consegue fazer nada. Ele tenta levantar-se para fugir, mas as pernas não o ouvem, então só lhe resta rastejar. O que permite aos coelhos alcançarem-no com facilidade e saltarem para cima dele. O homem começa a gritar. Os dentes deles perfuram a carne dele como agulhas. A dor aguda toma o corpo dele e faz os gritos do homem elevarem-se, no entanto eles rapidamente cessam por serem abafados pelo mar de coelhos que chega, envolve, estripa e devora o homem.
De volta ao pé da criança o homem acorda a gritar. Como se não tivesse acabado de ser despedaçado pelos coelhos, ele aparece num novo corpo.
A criança felicita o retorno do homem, que desesperado e confuso pergunta para ele mesmo se foi apenas um sonho ou algum tipo de ilusão. A criança afirma que não e manda o homem voltar ao trabalho dando-lhe de novo o mesmo cano que lhe tinha dado à poucos momentos atrás.
O homem então pega no cano e volta a virar-se para o monte de coelhos. Ele consegue ainda ver o corpo dele a sua frente, mas surrealmente está ali ainda sobre as suas duas pernas novamente. A criança por trás volta a insistir em dizer que é responsabilidade dele de matar os coelhos.
O homem percebe ser a única saída então reúne coragem.
Os coelhos começam a virar a cara para ele ao perceber a sua presença na clareira. O sangue do antigo corpo de J.J. ainda lhe escorre pela boca e o pelo branco foi completamente tingido.
J.J. exclama horrorizado:
“Parecem demónios!”
Ao ouvir o homem os coelhos chiam alto como se fossem realmente demónios e voltam a investir nele.
O homem aperta o cano com força e balança-o na sua frente atingindo um dos coelhos, mas sendo abalroado por outros muitos, que o mordem.
Mais uma vez cada mordida parecem mil agulhas a espetarem-se pela carne, mas desta vez ele consegue lutar. Arranca os coelhos que estão em cima dele e começa a correr para fugir antes que seja outra vez massacrado pela quantidade, aparentemente infinita, deles.
Volta a virar-se para eles e mais uma vez balança o cano, atinge mais uns quantos e desta vez desvia-se dos que não acerta. Ele faz isso mais umas quantas vezes, mas os pequenos demónios sanguinários são muitos então o cansaço, o stress e uma forte dor de cabeça começam a atingir o homem.
O homem dá mais uma corrida e quando se volta a virar para os coelhos eles estão parados a olhar para ele. O número já é significativamente menor e o homem sorri por isso, mas a o ânimo é destruído quando os coelhos começam a emitir outros sons, frases.
“Porque é que chegaste atrasado.”, “Nunca vi um empregado tão inútil.”, “Vai me buscar um café. SEM AÇUCAR.”
As vozes são distorcidas, mas são ordens e reclamações que lhe são familiares.
Enquanto o homem ainda está espantado com as vozes, os coelhos começam a reunir-se, a fundir-se. O homem ensanguentado sente o corpo dele a voltar a ceder ao pânico.
Os que restavam são agora um coelho enorme, que salta em direção ao homem, tão ou mais veloz quanto antes, morde o ombro esquerdo do homem fazendo mais sangue espalhar-se pela clareira e caiem os dois ao chão.
A mordida do coelho é dolorosa e fazem o homem gritar as suas cordas vocais, mas não é a dor física o pior. Lembranças invadem o corpo do homem injetadas pelos dois grandes dentes do coelho.
O homem abre os olhos e está num escritório ainda a gritar. À frente dele uma grande secretária de uma rica madeira e a seguir uma janela enorme onde dá para ver as nuvens.
A cadeira vira-se para a secretária e revela um individuo engravatado que ordena J.J. a ir buscar um café. Ele ouve, mas ignora. Cerra os punhos começa a caminhar até à secretária.
O empresário impera novamente batendo com a mão na secretária, desta vez insultando J.J. chamando-o de “inútil”.
J.J. embate na secretária e cheio de raiva agarra o chefe pela gravata cara. Com uma cara sádica deliciado em sentir o medo do empresário ele diz que já não quer saber de servir os caprichos do homem e aponta o quão egoísta, narcisista e uma merda de pessoa ele é.
“Hora de libertar-me do stress.”
Diz J.J. com um sorriso do tamanho do mundo antes de desferir um murro na cara do empresário.
De volta na clareira e à luta com o coelho J.J. volta a repetir a mesma frase. Então com o cano na mão direita ele espeta-o no olho do coelho, ainda agarrado ao ombro dele, fazendo a floresta ser inundada pelo grito dos dois.
O coelho recua e começa a cambalear. O homem levanta-se ofegante e prepara os punhos para continuar a lutar, mas o coelho volta a separar-se em vários menores que fogem a sete pés. O homem por fim cai de joelhos, exausto.
[Clareira do lago das sereias]
A criança caminha até ao homem, parabeniza-o pelo desfecho e ainda diz que podem ir para a próxima parte.
J.J. ao ouvir isto começa a reclamar com a criança apontando para o antigo corpo morto dele questionando-se. E também que no estado em que está não consegue ir a lado nenhum, mesmo que quisesse.
A criança olha para o corpo e friamente explica que J.J. morreu, mas que isso não importa porque ele ainda aqui está. O homem volta a queixar-se, mas o miúdo ignora e começa a andar de volta à floresta.
O homem vê a criança a voltar a entrar na vegetação sombria. O corpo dele está dorido em cada milímetro e ele perdeu demasiado sangue, mas ao ver-se sozinho ele é tomado pelo medo e acaba por correr atrapalhadamente atrás da criança.
Ao caminhar pela vegetação que mais uma vez abre caminho, mas desta vez com espinhos ainda maiores, o homem começa a ouvir alguém cantar e água corrente. Então volta a entrar numa clareira. As árvores ao redor têm alguma luminescência verde e o ambiente é invadido por pirilampos. E no meio dela, um grande lago criado por uma pequena fonte de água que escorre de um monte de pedras. Não há sinais da criança.
Dentro do lago está a figura responsável pelo canto que se ouvia dentro da floresta. Uma mulher com um vestido branco, mas leve, e no curto cabelo encaracolado ornamenta um narciso igualmente branco. Ela forma uma concha com as mãos, enche-as de água e eleva-as sobre a cabeça. Onde deixa que a água lhe caia sobre o rosto.
O homem chama a atenção da senhora, desculpando-se pelo incomodo. A mulher interrompe a cantoria e procura quem a chama até que percebe o homem.
Ela não diz nada, apenas se movimenta pela água até ele. Quando chega perto o suficiente, ela percebe os ferimentos do homem e esboça uma expressão bastante preocupada.
A mulher começa a correr até ele, questionando-o sobre o que lhe aconteceu, mas o homem não responde e pergunta pela criança, ao qual a mulher responde negativamente.
A mulher então toca nas feridas do homem, as mãos dele começam a brilhar e as feridas dele desaparecem. O homem espantado agradece. O toque suave dela envolve o corpo dele e deixa o corpo dorido revigorado.
“Sabes, acho que devíamos começar a namorar”
Uma rapariga que acompanha J.J. a fumar diz encostada na parede à frente dele. J.J. fica sem reação ao ouvir a pergunta. Ele não perde tempo e aceita, era tudo o que ele queria desde que a conheceu. Ela trouxe felicidade para a vida dele, era o ponto seguro dele. Ele realmente amava-a.
“Mas tu tinhas que saltar a cerca.”
J.J. volta à clareira da lagoa e a mulher está a gritar atrás dele. E deixa um enorme arranhão nas suas costas.
A mulher que antes estava completamente vestida de branco agora tem um vestido completamente preto, longo e com as pontas rasgadas. No chão da clareira começam incontáveis narcisos a florescer. E J.J. fica confuso com a situação.
Ele afasta-se da mulher e fica entre ela e o lago. A mulher continua a rogar pragas ao homem. Ele percebe que ela é a ex-mulher que ele tanto amava antes. Sem perceber 4 outros seres aparecem atrás dele e agarram-lhe o corpo.
“Se querias tanto outras, vai com elas.”
A mulher à frente dele grita. E J.J. é puxado para dentro do lago.
Dentro de água os 4 seres revelam-se serem sereias que cantam encantos aos ouvidos de J.J., tentando-o a ficar com elas ali. Ele sente o ar nos seus pulmões ficar escasso então luta para subir à superfície. As lembranças felizes que teve com a sua ex-mulher continuam a encharcar a mente dele, mas também os momentos em que ele a traiu com inúmeras outras.
Elas tentam agarrar-lhe as pernas novamente ao perceberem que J.J. tenta nadar para cima, mas ele balança o cano tentando ataca-las.
Ele nada rapidamente para a superfície e tenta sair da água, mas ele volta a ouvir o canto delas e começa a ceder a deixar-se ficar por lá. E para impedir isso ele segura-se nas memórias mais felizes da vida dele e todas eram acompanhadas pela mulher que ele não soube dar valor.
J.J. chega a terra firme e coloca-se de pé ignorando os gritos de frustração dos monstros atrás dele. E começa a correr rapidamente para dentro da floresta.
[Pântano dos embriagados]
Ele corre pelo meio da floresta desviando-se dos espinhos da vegetação que agora não lhe abre caminho. Ao conseguir sair do meio das árvores ele chega a uma clareira, ou ele pensa que devia ser isso. Na verdade, ele chega a um pântano, onde o nevoeiro é bastante cerrado e impede-o de ver o perímetro da floresta ao redor.
Ouve-se um barulho de vegetação a mexer que deixa J.J. alertado. Ele olha para trás de novo para a floresta na direção de onde ele veio.
A criança aparece e J.J. relaxa o corpo tenso. E pergunta-lhe onde é que esteve. Ao qual a criança diz que se perdeu, mas que estava aliviado por o ter encontrado de novo.
J.J. da uma risada sarcástica sem conseguir acreditar, mas o assunto deixa de ter importância quando o cheiro a bebida inunda o lugar. Ele volta a analisar o pântano e desta vez pelo nevoeiro ele consegue ver uma cabana com as luzes ligadas.
A criança ao perceber também sugere lá ir e J.J. concorda. Ao caminharem começam a perceber que estão a ser rodeados, alguns coelhos pequenos aprecem pelo nevoeiro e J.J. fica chateado por eles estarem de volta.
J.J. prepara-se para eles atacarem e como antes ele acerta em alguns, mas outros conseguem mordê-lo consumindo-o mais uma vez com a mesma dor aguda insuportável.
J.J. está na garagem e estende a mão para entregar uma ferramenta ao pai que está debruçado sobre o motor de um carro. O pai vê a ferramenta e faz uma cara de raiva. Ele grita com J.J. e diz que não é a ferramenta que ele pediu.
O pai estende a mão ao ar e manda uma chapada em J.J. que suja a cara dele com óleo. J.J. mal consegue segurar a vontade de chorar, então soluça de forma estranha.
J.J. volta a atenção novamente aos coelhos quando outro o morde.
Ele deixa-se consumir pela raiva e balança o cano no ar rapidamente mantando mais alguns coelhos com facilidade. Os restantes ao verem ficam com medo e fogem.
A criança parabeniza-o, mas J.J. ignora-o e retorna o trajeto até à cabana.
Quando a dupla chega perto da porta da cabana, ela é arrebentada pelo corpo de um homem que aterra perto dos dois agarra J.J. pelo pescoço.
“Luta de bar.”
Diz o homem com um sorriso enorme na cara antes de atirar J.J. para dentro da porta e saltando de volta para dentro do bar.
J.J. bate contra um balcão e apoia-se nele para não cair ao chão. Ao ver o homem novamente à frente, ele recompõe a postura.
O homem vai ao pé de uma mesa e pega numa garrafa que contém um líquido cor de mel dentro. E J.J. percebe o que aí vem. Ele prepara-se para a luta. E o homem elogia-o por não perder tempo com conversa.
O homem pega também numa garrafa que está no balcão e bate com ela contra o mesmo, o que parte a garrafa.
“Ah! Técnicas de rua.”
O homem diz e a alta velocidade investe sobre J.J. e sem dar-lhe tempo para reagir parte a garrafa na cabeça dele, derramando o líquido castanho e sangue pelo balcão.
J.J. está num bar com a mulher, que insiste com ele para irem embora porque ele já está embriagado, mas ele nega e empurra a mulher violentamente.
A criança chama J.J. e ele acorda de novo na porta do bar. Ele pergunta se morreu ao qual a criança confirma, entregando-lhe novamente o cano de esgoto.
O homem volta a vir à porta com um sorriso. Ele provoca J.J. perguntando se ele vai aguentar mais tempo desta vez e atira-lhe uma nova garrafa.
J.J. apanha a garrafa e prepara-se para voltar a lutar. O homem embriagado volta a entrar para o bar e J.J. vai atrás dele. A criança cá fora volta a acordar J.J. que ressuscita e relembra memórias das múltiplas vezes que ficou bêbado.
Quando finalmente é a vez de J.J. de sair pela porta da cabana. [Substâncias tóxicas]
J.J. caminha até à criança ofegante. Olha para ele com uma cara pesada e pergunta-lhe para onde é que têm de ir agora. O que deixa a criança espantada que elogia o espírito do homem.
A criança começa a andar pelo pântano e J.J. deixa-se inundar novamente pelas memórias más com a mulher. E quando percebe o miúdo chama-o a atenção.
J.J. estremece e segue a criança pela floresta. Desta vez a floresta não apenas tenta impedir o caminho, mas ativamente tenta agarrar J.J. e por isso ele começa a correr deixando a criança para trás.
Ele para de correr quando sai da floresta e espera que a criança apareça.
Quando ela chega ambos analisam a clareira. A clareira é igual à inicial, mas desta vez o que há no meio não é uma mancha branca, mas sim um homem esquelético deitado.
J.J. caminha até ao homem no chão e levanta o cano. Quando ele vai executar um ataque certeiro na cabeça do homem, este levanta o braço e segura o cano. J.J. assusta-se e tenta puxar o cano de volta, sem resultado. O homem levanta-se enquanto geme e tosse sangue.
O homem magrelo levanta a cabeça e olha bem para J.J. Ele está de tronco nu e tem uma bolsa enorme à cintura que abre enquanto J.J. ainda tenta puxar o cano de volta ao ver o perigo crescer.
Da bolsa, o homem, tira uma seringa com um líquido rosa. J.J. percebe o que é e solta o cano para se afastar. O homem espeta a seringa no peito e injeta o líquido na sua corrente sanguínea. Num piscar de olhos, o homem magrelo, ganha mais metade da sua altura anterior e os músculos dele crescem explosivamente.
J.J. é consumido pelo medo e paralisa. O homem então sem aviso desfere um soco pesadíssimo no peito de J.J. que o atira ao chão. A dor espalha-se pelo corpo assim como quando ele começava a ficar sóbrio.
O homem corre para J.J. que está no chão tira um monte de pó branco da bolsa e atira-o ao nariz dele.
J.J. respira sem querer e sente a droga a fazer efeito instantaneamente.
Numa rua durante a noite, J.J., caminha debaixo da luz dos candeeiros. Ao virar numa rua ele encontra dois homens que estão a fumar num banco de jardim.
O homem aproxima-se dos outros dois e pede um cigarro. Os dois percebem que J.J. está drogado e pedem para ele se afastar, mas ele ignora e volta a pedir um cigarro com um tom mais agressivo. Os dois homens levantam-se zangados e socam J.J. que cai ao chão, mas nem por isso eles continuam a espancá-lo. J.J. não sentia nada naquele estado, no entanto na manhã seguinte quando é acordado por polícia o corpo dele grita dolorido.
J.J. ressuscita ao pé da criança que ri e estende-lhe o cano como sempre.
Se há uma coisa que J.J. sabe é que sem a droga, os dependentes não são nada. Ele espera e quando vê o drogado que estremece à frente dele mexe na mala ele começa a correr e atira o cano à cara dele que não o vê chegar. O cano bate nos olhos do drogado e ele leva as duas mãos à cara. J.J. então aproveita a oportunidade para agarrar a bolsa e atirá-la para longe.
O drogado estremece, grita de raiva e desespero e volta a socar J.J. que desta vez suaviza o golpe defendendo-se com o cano.
“Eu preciso.”
O homem diz com uma voz rouca e destruída. Ao qual J.J. ri, respondendo saber bem qual era aquela sensação. Com a mesma velocidade que ganhou tamanho e força, o homem volta ao estado anterior, perde todas as forças e cai
J.J. a sangue-frio, com o cano, esmaga a cabeça do homem ainda consciente. Só que sem dar descanso a J.J. um monte de coelhos volta a sair da floresta.
A criança ao perceber afirma que eles são realmente como o stress, uma verdadeira praga dentro da nossa cabeça.
J.J. sem forças corre até à bolsa do homem ainda ali caída e tira de la alguma cocaína, que consome, e outra guarda no bolso das calças. Ignorando a criança que reprova a ação dele.
Ele grita e começa a caçada aos coelhos que da mesma forma a cada mordida lhe trazem memórias indesejadas à tona. Até que depois de matar alguns poucos o resto fogem covardemente.
[Lar do primordial]
O miúdo bate palmas lentamente em direção ao homem ofegante, que esfrega uma das feridas causada pelos coelhos. Com isso o homem perde a paciência alterado pela cocaína que o monstro o fez consumir.
J.J. levanta-se e começa a caminhar agressivamente ao encontro da criança. Que ao perceber mostra uma cara confusa. J.J. agarra a criança pelo pescoço e embate com ela no chão. Pergunta-lhe quando é que aquele inferno vai acabar e ordena que lhe dê explicações sobre aquele mundo.
A criança bate no braço do homem pedindo por liberdade. J.J. liberta-o então ela esclarece-o. Diz que o próximo é o último, garantindo que depois daquele tudo ele pode voltar. Então senta-se e começa a explicar.
“Tu estás dentro da tua consciência.”
O miúdo diz com um sorriso. Explica que aquele mundo é um limbo criado pela mente dele para julgar os acontecimentos da sua vida. E no fim disso num tom irónico pergunta se foi a droga que o deixou assim tão alterado ou se foi algumas lembranças engraçadas que os coelhos trouxeram à tona.
J.J. irritado com a provocação da criança grita com ele, para ele não se meter onde não é chamado. O medo e o ódio pela opressão de anos que J.J. sofreu do pai estão bem tatuados nas rugas que a expressão dele formam.
Então J.J. grita que o pai dele é como os demónios que ele enfrenta neste mundo. Com isso a criança levanta-se e passa por J.J. batendo-lhe com o ombro.
“Se ao menos tivesses moral para falar sobre ser um bom pai.” A criança diz para si mesma.
O homem ainda alterado começa a andar em direção à floresta que tenta barrar a entrada dele atacando-o com espinhos, mas J.J. desvia-se e alimentado pelo ódio faz o caminho até a próxima clareira acompanhado pela criança que caminha vagarosamente atrás dele.
A clareira está vazia o que deixa J.J. impaciente, mas não ficou assim por muito tempo porque ele começou a ouvir um chiar, um barulho que ele já conhecia. Coelhos.
Das árvores, a alta velocidade, sai o coelho grande ainda com o olho ferido. O homem aperta com firmeza o cano com as duas mãos. E incentiva o coelho a vir dizendo que o vai acabar com ele desta vez.
“Então não é disto que tens medo…”
O coelho diz com uma voz profunda antes de se começar a transformar numa gosma preta.
A gosma continua a falar, a pergunta-se do que é que J.J. tem medo. O homem ao ver aquilo fica confuso e depois desesperado. A gosma transformou-se na sua ex-mulher, com uma forma ainda mais carregada de ódio.
O homem começa a sentir algum medo, mas tenta manter-se firme.
A gosma elogia J.J. e depois investe novamente a alta velocidade em direção a ele com um berro aterrador usando a voz da mulher. J.J. está paralisado de medo e deixa-se atingir pelo peso completo do demónio. Ele é projetado contra uma árvore. Grita de dor e o demónio ri-se.
O demónio aproveita que J.J. está no chão e começa a dizer que J.J. é uma pessoa triste e fraca. J.J. começa a lembrar-se mais uma vez da sua ex-mulher. De
quando ela desapareceu, quando retornou e começou a destruir-lhe a vida e ainda quando ela lhe levou a coisa mais preciosa para ele, o filho.
O demónio cheira o ar e solta uma gargalhada acompanhado pela criança.
J.J. levanta-se e a criança incentiva-o a ficar no chão porque aquele demónio cheira o medo e enquanto ele sentir medo o demónio vai sempre arranjar solução de vencer.
O demónio confirma, diz para J.J. ouvir a criança e rebaixa-o. Ele então volta a começar a mudar de forma e desta vez transforma-se num homem de meia-idade.
“O nosso Jayjay tem medo do paizinho.”
A criança gargalha ao ver a forma que o demónio tomou.
A gosma corre até J.J. e espeta-lhe um soco no rosto que o atira para o chão.
Então o demónio continua a barragem de socos.
Cada golpe no rosto de J.J. acorda memórias de pequenos medos e alguns maiores. Então o demónio agarra as duas mãos e desce-as novamente sobre o rosto inchado do homem.
“Constança”
J.J. ouve o pai gritar de outra divisão. Ele está numa sala desarrumada com um cheiro intoxicante a tabaco.
Uma mulher com os seus vinte e cinco anos aparece na sala e procura por
J.J. que sai de trás do sofá. Ela então volta a sair da sala e sobe umas escadas. J.J. ouve o pai continuar a chamar pela mulher e sobe as escadas a correr atrás dela.
Depois disso ouve estrondos e objetos a cair.
A mulher grita e chama por J.J. ao qual ele responde o chamado e vai ao encontro dela.
Quando chega ao meio das escadas, J.J., espreita pela porta do quarto onde o casal está. No quarto dele, na cama dele. O homem levanta-se nu da cintura para baixo. Que ao perceber a presença dele grita com ele a questionar porque é que ele ali está. O miúdo começa a soluçar e a prender o choro. O pai, o monstro, pergunta- lhe porque é que ele está a chorar pois ninguém lhe fez mal e depois sai do quarto e segue em direção a casa de banho.
A mulher ainda no quarto levanta-se da cama, com a cara cheia de lagrimas, também nua da cintura para baixo e a t-shirt branca rasgada, revelando diversos hematomas velhos e recentes. A mulher soluça e pede para J.J. voltar para baixo. Ela pega na ponta de um lençol e limpa o sangue que lhe escorre por dentro das pernas.
J.J. está paralisado sem conseguir mexer-se, nem conseguir parar de chorar. O homem sai da casa de banho e começa a berrar novamente com a criança:
“Vais fazer o quê?”
J.J. de volta à clareira agarra os punhos do pai e soca-o de volta.
Ele levanta-se e tira do bolso das calças um pouco de cocaína que tinha pego do chão anteriormente. Consome e deixa-se tomar pela insanidade.
“Como tu o meu pai é realmente um monstro, acho que ainda mais que tu.”
J.J. provoca a gosma, que esboça uma expressão de raiva e volta a investir no homem.
Ambos começam uma troca de socos. A cada golpe que J.J. sofre ele tem mais uma lembrança aterradora da sua infância e do medo constante que ele tinha naquela casa. Cada vez que o demónio sofria um golpe ele destorce mais a sua forma, tornando-se cada vez mais monstruoso.
Eventualmente o monstro começa a ficar esgotado e J.J. ao perceber insulta o demónio, e rebaixa-o inversamente aos momentos anteriores.
A gosma começa a perder a compostura e deixa de conseguir manter uma forma. J.J. então aproveita e soca-a com toda a força em cheio, espalhando-a pela clareira.
[Culpa]
A criança não diz nada, apenas olha para J.J. que está ofegante. Depois de recuperar um pouco do folego ele esboça um sorriso genuíno.
“Tu és… Filho? P.P.?”
J.J. percebe que a criança que o tem acompanhado é o filho e enche-se de felicidade. Ele começa a caminhar até ao miúdo que abaixa o olhar. J.J. abre os braços para abraçar o filho, mas antes de o conseguir fazer. P.P. soca-o com toda a força impulsionando J.J. para longe.
P.P. começa a falar ainda com o braço esticado e o punho cerrado. Ele pergunta se J.J. se lembra do que aconteceu. Se ele se lembra do pior demónio que ele vai ter de enfrentar. J.J. atordoado olha com tristeza e confusão para o filho.
P.P. sorri e diz:
“Chegou a hora de lidar com a culpa.”
O corpo da criança começa a crescer e a ficar mais gordo. J.J. recua mais um passo ao ver o filho transforma-se. Ele não quer lutar contra o filho.
Numa sala de partos o médico em meio ao choro do recém-nascido anuncia ser um menino. E entrega-o a uma das enfermeiras que o limpam e embrulham numa manta. Ao ver o seu filho J.J. começa a chorar. Ele nunca sentiu tanta felicidade. Ele percebe naquele momento o que é ter um filho, a necessidade de proteger um ser tão frágil. Ele pega nele e começa a chorar ainda mais, com um enorme sorriso no rosto. Ele cumprimenta o filho e dá-lhe as boas-vindas ao mundo.
De novo na clareira, J.J., ainda está em negação, ele não quer lutar com o seu filho.
Na casa onde o casal vive J.J. chega e P.P., um pouco mais velho, vem até à porta e abraça-o.
P.P. pergunta ao pai se ele quer brincar, mas J.J. diz que está cansado do trabalho e por isso não tem vontade, o que deixa a criança desanimada e vai a correr para a sala.
A mulher de J.J. começa a discutir com ele porque ele passa pouco tempo em casa e quando está ignora totalmente o filho. J.J. nega e diz que não quer discutir porque mais uma vez está muito cansado. A mulher acusa-o de a andar a trair, então, J.J., deixa a raiva tomar conta e começa a discutir com a mulher.
Na clareira o bebé gigante começa grita e chama J.J. de pai de merda. Ele percebe que aquilo não é mais o filho dele. É apenas outro demónio que ele vai ter que matar. Ele caminha até ao cano de esgoto e pega nele mais uma vez. Olha para o que já foi o filho dele. E reúne forças.
J.J. e o bebé gigante começam a correr em direção um do outro. O bebé salta e J.J. ao perceber que se não sair de onde está vai ser esmagado atira-se para a frente.
O homem volta a levantar-se e desta vez é a vez dele de desferir um ataque. Ele salta sobre o bebé e golpeia o com toda a força a cabeça enorme, o que faz o bebé chorar de dor.
O bebé então braceja e acerta J.J. que ainda não tinha voltado ao chão, projetando-o para longe. J.J. volta a levantar-se novamente dorido de todas as lutas que teve anteriormente. Ele começa a ser inundado pelas memorias do acidente onde ele matou o filho.
Ambos voltam então a correr um contra o outro. Várias e várias vezes. O bebé sempre a provocar e insultar J.J. relembrando-o do quão mau pai ele é tal e qual o dele.
Alimentado pelas palavras do monstro, J.J., fica cada vez mais consumido pelo ódio e os seus golpes começam a ganhar mais força.
Eles gritam. Correm em direção um do outro como muitas outras vezes anteriores, o bebé tenta socar J.J., mas ele salta por cima do punho gigante…
[Cutscene final]
J.J. desfere o golpe final no bebé gigante que grita uma última vez o nome dele. Ele respira com extrema dificuldade. E então expressa uma cara de espanto, terror e ao mesmo tempo um fio de felicidade nos olhos. As cinzas do bebé gigante deformado transformaram-se num bebé de luz. Bebé esse, o seu filho que lhe desce sobre os braços.
J.J. continua a transitar entre emoções e expressões faciais enquanto olha para o filho alheio ao seu redor onde as árvores começam a pegar fogo.
[Final bom]
Escorre-lhe uma lágrima pelo rosto, uma ventania sem origem apaga o fogo, ele abraça o bebé puxando-o mais para perto dele. O bebé começa a brilhar cada vez mais ofuscando o ambiente.
Uma voz chama J.J. ao fundo, pedindo-lhe que acorde.
J.J. acorda de volta à cela da prisão que bem teve tempo para decorar no tempo que esteve preso. Resmunga um pouco. pisca os olhos com força e finalmente foca o olhar no guarda que está parado à frente da cama dele.
O guarda dá-lhe os bons dias e relembra-o que hoje é o último dia da pena dele. J.J. age ainda ensonado. Tinha-se esquecido completamente que hoje era o dia em vai ter libertado. Ele senta-se na cama e o guarda atira um saco para o lado dele afirmando que contém os pertences dele e umas algemas.
J.J. assente com a cabeça e vê o guarda sair da cela. “Este sonho… foi só um sonho, certo?”
O homem pensa levando uma das mãos à cabeça. As vozes do bebé gigante ecoam na cabeça dele, que o fazem deslizar da cama e cair de joelhos no chão.
Começa a chorar e pede perdão, que agora percebe os erros dele e que vai se esforçar para os compensar.
Já vestido e algemado J.J. aproxima-se da cantina, o guarda que o acordara anteriormente na cela está encostado na porta ao fundo do corredor à espera.
O guarda destranca as algemas e indica o caminho que Jerónimo está farto de fazer, para dentro da cantina.
Ainda são onze horas por isso a cantina está vazia. Como ele já não é considerado um preso não lhe é permitido comer no mesmo horário. Então ele pode escolher sentar-se onde bem lhe apetecer.
A cada garfada que Jerónimo dá ele relembra o sonho desta última noite. Ele interioriza cuidadosamente cada detalhe e sensação.
“Não posso voltar a ser aquela pessoa, tenho de me responsabilizar pelos meus erros e agora compensar. Começa agora a minha redenção…”
[Parte final]
Já no portão de saída da penitenciária o guarda volta a destrancar as algemas de J.J., dá lhe uma palmadinha nas costas e diz-lhe para ele nunca mais voltar.
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[Final mau]
J.J. grita em negação e atira o bebé para longe. Ele começa a caminhar ao redor do bebé e acusa-o de tudo o que ele teve de passar naquele mundo infernal. Pergunta se tudo aquilo é alguma provação e recusa-se a admitir a culpa dos seus erros empurrando-a para o pai e para a mãe do filho.
Numa investida o homem consumido por ódio salta sobre o bebé e aperta-lhe o pescoço que para de chorar, mas emite barulhos de vómito.
“Tu não aprendes mesmo, pois não?!”
Uma voz ecoa ao redor e as chamas enfurecem-se começando a consumir terreno rapidamente.
O homem ignora e a voz que volta a gritar:
“TAL PAI, TAL FILHO.”
O homem começa a rir e as chamas engolem toda a área. Ao som das gargalhadas doentias de J.J.
J.J. acorda sobressaltado e levanta o tronco na cama rapidamente, surpreendendo o guarda que chegara agora mesmo a cela.
O guarda dá-lhe o saco com os seus pertences, indica que ele deve se apresentar à frente da cantina vestido e algemado e sai sem muita mais conversa.
Jerónimo levanta-se e veste-se. No espelho a cara do pai dele aparece ao invés da dele.
“Tal pai, tal filho? Um dia vou te fazer pagar no inferno”
J.J. diz com um sorriso rasgado.
No portão de entrada o guarda desalgema J.J. e manda-o embora. J.J. responde ironicamente que a comida e o teto de graça parecem tentadores.
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[Parte final]
J.J. chega ao princípio de uma floresta e vê um espelho enorme. Onde o pai se reflete mais uma vez.
Alguém por trás do espelho afirma que J.J. não percebe nada, que parece uma criança. Não consegue admitir os próprios erros nem carregar a responsabilidade disso então empurra-os para quem mais lhe convém.
As árvores começam a crescer rapidamente cercando J.J. e o espelho.
O miúdo revela-se saindo de trás do espelho. O que espanta J.J. que começa a recuar a passada ao relembrar o que acontecera no limbo.
O miúdo começa então uma chuva de insultos e acusações: “És um assassino, um pai e esposo de merda.”
J.J. cai para trás e as árvores crescem mais tapando a cor do céu. Ele começa a grita a ordenar que a criança se cale. Repete que ele não tem culpa de nada e que apenas os que lhe fizeram mal é que são os responsáveis.
De súbito o reflexo do pai de J.J. começa a falar. Enchendo a cabeça dele com a tentação de o matar. E com isto dito a criança transforma-se num revolver,
J.J. como uma cria assustada gatinha e pega o revolver com as mãos trémulas.
“Matar os culpados.”
A figura do espelho diz e abre um sorriso horrendamente gigante e distorcido.
E J.J. grita anunciando que o vai matar e depois à filha da puta da ex-mulher. “Atira filho. “
A figura incentiva e o sorriso aumenta.
As árvores começam a crescer violentamente em direção a J.J. que dispara sob pressão no reflexo.
O espaço parte-se com o tiro. O espelho desapareceu. As árvores voltaram ao tamanho normal. E Jerónimo está no chão, com o crânio perfurado.